Acabou. Sem mais cursinho. Sem mais ônibus. Sem mais vestibulares. Agora, só restam dias de incerteza. Por ora, posso me angustiar com outras coisas que não sejam o vestibular.
Aliás, que maravilha é viver. Já falei aqui, é pura angústia. Ficar triste por isso, ficar triste por aquilo. Que saco! Por que não posso resolver meus problemas de modo fácil e indolor? Talvez, meus problemas sejam todos psicossomáticos. Quem sabe eu não tenho reais motivos para angustiar e, então, crio angústias pra me divertir. Realmente achei que estaria mais aliviado com o fim do ano letivo, mas parece que nada mudou. Talvez até tenha piorado - desde semana passada para cá, fico procurando me embriagar todo dia, como escapismo. Sabe, eu não me sinto melhor bêbado. Eu não sinto nenhuma alegria oriunda do meu estado alcoolizado, mas, ainda assim, parece que preciso. Talvez seja dependência. Imagine só, eu, Lorenzo, já dependente, nos meus meros dezoito anos. Roubei uma cerveja do meu pai, hoje. Ele quase viu o casco vazio ao lado da cadeira do meu computador quando acordou no meio da noite. Não é a primeira vez, acho que não vai ser a última. Parece desleal roubar birita do meu pai, afinal, álcool não é barato e eu estou aqui roubando dele. Peço desculpas e paro quando ele em pegar em flagrante. Até lá, não mudarei meus hábitos, pois tenho morais imundas e desprezíveis.
O álcool não diminui minhas angústias. Continuo triste. Ainda sinto falta de um amor. Ainda sinto falta de uma amizade. Ainda sinto tudo. Mas parece mais tolerável. A dor ainda esta lá, mas eu consigo encarar ela de frente. Quer dizer, se preciso mudar meu estado de consciência para poder encará-la, é explícito que, em realidade, não consigo fazê-lo. Mas talvez escancare o quanto solitário me sinto. Agora, simpatizo com os clientes do Bar dos Bambus, alcunha dada ao barzinho rua acima. Homens de idade que, mesmo com toda a experiência de mundo, não conseguem aguentar o peso de suas próprias angústias. Eu sei o quanto é prepóstero, quase presunçoso, tentar se comparar com os botequeiros, visto o quanto diferente somos, mas, como disse, apenas simpatizo com eles um pouco mais, agora. Com sorte, quando estiver na idade deles, estarei preparado para aguentar os porres da vida, sem precisar de outros porres.
Mas quem estou enganando. Eu sou a putinha da existência. Quando estiver completamente imerso no mundo adulto, também estarei imerso na angústia. Chorando calado. Deus tenha misericó-- ah, quase esqueci - Deus está morto. Que peninha, não?.