Eu sinto muito, muito mesmo, mas eu não consigo. Eu já passei muito tempo processando isso, digerindo isso e... eu sei. Eu sei que eu deveria, eu sei que é necessário mas... eu não consigo! Não é por falta de tentar, eu tento muito. Você não acredita em mim, né. Eu não te culpo, quer dizer... eu culpo. Muito. Mas não por isso. Eu sei que isso não é o certo, mas quando você me pede pra te perdoar eu... não dá. Simplesmente, não dá. O dia da bandeira. Aquela vez que você levou um fora. Aquelas vezes, na verdade, no plural. Quando você disse aquela coisa muito idiota. Quando você foi enganado quando era menor. Quando usou aquela palavra que não sabia nem o significado. Quando você saiu com aquele pessoal e a gente se sentiu SUPER DESCONFORTÁVEL porque não sabe bem medir o nível de intimidade. Eu deveria ser mais legal com você, eu sei, a culpa é minha, mas é tão difícil aprender com tudo isso e simplesmente deixar o passado pra trás. Parece que doi, de verdade, toda vez que eu lembro. E, ultimamente, eu lembro demais.
E ando pensando muito sobre isso tudo. Eu não sei se você ao menos merece esse perdão. Todos esses eventos... foi você que fez acontecer, sabes? Você trouxe isso pra si mesmo. Mas não aprendeu nada com eles. Nada. Talvez eu não deveria te perdoar. Porque você sou eu. E se eu não consigo perdoar mesmo fantasmas do passado, momentos cujas causas e consequências estão congelados no seu tempo, como poderei perdoar os erros mais recentes, ou os erros mais profundos, que escancaram nossas piores falhas morais. Que mostram a escória alienígena travestida de homem. Sinto muito, você é uma pessoa horrível, e não há nada que eu possa fazer. O mínimo que você pode fazer pelo resto do mundo, que com toda a sua graça tolera sua existência, é lembrar-se constantemente de quem você realmente é. A mosca repousa sobre a superfície da pele quente, o leve movimento do braço espanando o ser pútrido para logo mais voltar.