Finalmente.

    É isso! Acabou! Foi completamente arrancado o band-aid!
    Mas... e agora?

    Pois é, leitor. O Enem acabou. Quer dizer, não acaba até as notas serem anunciadas e abrirem as portas do SISU, mas a parte ativa do Enem acabou. Posso respirar em paz por uma semana ou duas, até a prova da feder--
    A prova da federal.
    Ah.

    Horrível é a vida do vestibulando. Não posso passar um segundo em paz. Um mísero segundo. Além das imensidões de preocupações triviais que o cotidiano nos garante, tenho também que estar completamente paralisado de ansiedade a cada segundo que estou mais próximo de outro vestibular. Passar o final do ano inteiro em função de exames e testes e provas e montanhas de papéis para preencher! Que agonia! Que náusea! Estou farto, completamente farto. Quero que tudo acabe logo, querro arrancar todos estes band-aids. Quer saber? Até cansei desta metáfora gasta do band-aid. Está errada desde o começo, se usam gazes para esse tipo de ferida, não pequenos band-aids! É a treva, eu digo, a treva! Meu cérebro anseia por glicose, está em um estado completamente catatônico - a revolta pode sangrar através deste parágrafo, mas a cara do escritor está muda; cansada; inerte.

    Por que não posso correr das minhas preocupações? Por que não posso fugir da morte, do vestibular, da insegurança, da falta de um corpo quente, e viver como uma ninfa, um ser etéreo bailando entre eternas clareiras? O imaginário da minha imagem vestido em seda correndo mata adentro é levemente perturbador. Deveria ter repensado minhas palavras. Ugh! Treva! Minhas fantasias escapistas entram em colapso, uma por uma, até que reste apenas um mundo feio e nu, tentando esconder suas vergonhas com folhas de bananeira.
    Realidade. Não gosto dela. Não quero enfrentá-la. Ela é feia. E nua. Salvo algumas folhas de bananeira. Porque na realidade ninguém é lobo, somos todos ovelhas com más intenções. Estamos todos prostrados diante do carrasco. E sabe o que é pior? Nunca irá alguém no mundo conseguir encapsular o terror inato deste algoz. Não existem palavras em quaisquer línguas que possam comunicar com precisão concisa o horror, o pavor encarniçado e esplâncnico da existência. Muitos falam, todos conhecem, mas o tabu é gargantuesco, é pantagruélico, é -- eu não consigo explicar. A sociedade cairia em ruínas o momento que não houvesse mais este silêncio. A realidade, enquanto completamente abstrata, consegue afligir esta dor a todos. Porque o sofrimento é completamente inerente à existência. A felicidade se origina da pena que sentimos de nós mesmos, da compaixão compulsória que sentimos quando reconhecemos o outro ser humano enquanto ser que vive e que, por conseguinte, sofre. Porque a existência é uma aberração. A vida é uma aberração. Um milagre pífio no meio da imensidão cósmica. O universo não nos deve favores, o universo não tem moralidade.

    Ainda assim, como masoquistas,
    nós vivemos.
















Conforme passam os dias, mais desesperado se tornam estes textos. Mas relaxe. Tudo vai ficar bem até o fim do ano. E se não ficar, conversaremos sobre isso, então.