Drabbles do Tintubro 2020

Decidi tomar parte do Tintubro deste ano. Mas, né, eu não pinto, não desenho, não sei essas coisas. Depois de dar uma pesquisadinha, achei um jeito muito bom de participar: drabbles! Histórias curtinhas de exatamente 100 palavras. Aproveite, eu acho.


Dia 1 // FISH

Uma leve palpitação na superfície no lago. Alguns metros acima, um casal de velhinhas jogando fiapos de pão seco para a fauna ao redor. Como a visão de uma velhinha tende a ser pior que a visão de uma mocinha, o pão caía por todo o canto, mas mal acertava o lago, os patos cobertos de migalhas. Enquanto isso, no fundo do lago, os peixinhos pululavam de felicidade. Não entendiam por que estava chovendo tanta comida, mas isso não importava; estavam em festa. Iam ficar grandes e gordos, do jeito que os patos gostam (bem mais do que pão seco).

Dia 2 // WISP

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Dia 3 // BULKY

A cada passo, arrastado, ele sentia o chão tremer. Se sentia grande demais; achava que era um perigo. E se ele machucasse alguém, sendo tão grande? Então, evitava sair na rua. Se mudou para o interior. Lá, seu tamanho não machucaria ninguém. Pelo menos, ninguém mais do que ele mesmo; estava cansado de ser tão grande. Parecia uma grandeza insustentável que, eventualmente, iria simplesmente desabar. Colapsar no tamanho do próprio ser, como ruínas de uma civilização um dia próspera. A cada passo, arrastado, se sentia mais perto da queda. E achava que, quando caísse, não teria forças para se levantar.

Dia 4 // RADIO

Todos os ianques sabem que o inverno em Nova Iorque é brutal. A manta de neve que cobre a cidade transforma a selva de concreto em uma verdadeira tundra de cimento. Talvez ninguém saiba melhor do que os sem teto. Os moribundos que vagam entre as frestas da sociedade. Um destes, esta noite, vai (tentar) dormir num beco no distrito comercial. No meio da cacofonia capitalista, o rádio de uma lojinha está tocando as tradicionais músicas de natal. Ele se lembra dos presentes. Da árvore. O abraço dos seus avós. Hoje, essa tundra parece um lugar um pouco mais acolhedor.

Dia 5 // BLADE

"Yaagh!"

Outro sábado agitado na periferia de Qurṭuba. Nas vielas populadas da capital moura, uma perseguição estava a caminho.

"Espadachim de araque!"
"Quem foi que quebrou uma espada que a madrasta trouxe de Toledo?"

Quem escutava os rugidos, chistes, ameaças e clingues de cimitarras mal afiadas poderia até acreditar que se tratava de uma dívida de sangue. Encurralando o outro jovem num beco, achou que poderia abaixar sua guarda; erro de principiante. Com um violento estalar, sua arma voou longe. Humilhado, sem outras opções, se joga em cima do rival. Os dois rolam risonhos no chão sujo; trocam um beijo.