O coroinha

De manto preto e branco,
 Entre velhas em filinha, quatro ou cinco em cada banco
Passa lento o coroinha

Pendulando um incensório, pelos calos
agarrado às correntes do acessório
de fumaça prateado.

Onde pisa, santo solo,
fumigado de mirra como quem diz:
"Não se sangra ou chora no Paraíso".

Desliza sobre o piso com sapatos apertados,
dedos premidos
suados
marcham num passo conciso.

A bata grossa roça contra o pescoço macio:
Vermelho, pulsa, coça e perspira
inteiro um rio

E a alegria do suplício,
ao ralar o machucado
enquanto usa
o cilício
de pano branco
encharcado.

Finda a missa, ao se trocar,
encontra na sacristia o batido indumentar
do acólito que assistia.

Contra o rosto,
incenso, suor e corpo
reprisa o mantra de outrora:
"Não se sangra ou chora no Paraíso".