E hoje foi ontem. Já foi. Bola pra frente.

    Quero começar com ótimas notícias: passei na primeira fase da UFPR! Estou contente comigo mesmo. Tirei uma nota boa, até, então tenho poder para me gabar um pouquinho, sim, o que não ocorre sempre! Ainda assim, a euforia da primeira aprovação logo cede espaço ao desespero da próxima prova. Serão seis questões de Filosofia e uma redação, ao longo de dois dias. Novamente, estou com medo. Mas cansei de sentir medo e, sinceramente, não tenho tempo sobrando pra sentir medo. Meus esforços agora serão voltados para o vestibular. Nunca fui muito amigo da Filosofia, mas não tenho escolha alguma senão dançar o que a banda toca. Cabeça nos livros e fé.
    Além disso, álbum novo do Haken. Ótimo. The Good Doctor e A Cell Divides não desgrudam da cabeça, apesar da morbidez generalizada que se apresenta no tema escolhido pro conceito do álbum (algo sobre psiquiatria).

    Mas queria focar o resto desse texto pra coisas não tão legais. Especificamente, a maldita estupidez que assola a população desse país. Dizem que não se deve jogar pérolas aos porcos, mas puta que pariu, o Brasil é um enorme caminhão tombado cheio de pérolas que caiu num chiqueiro abandonado. Os porcos, todos rastejando no mesmo piso onde cagam, olham para as pérolas e se alegram com o seu brilho frio, rastejando ainda mais e por vezes comendo as esferinhas brancas misteriosas. Digo isso porque estou mais que frustrado com alguns desenvolvimentos recentes em relação ao ENEM. Veja, leitor, esta última edição contou com uma questão abordando o "pajubá", dialeto usado por uma parcela da população LGBT com origens e - um momento, The Good Doctor é muito boa, preciso de um tempo pra uma sessão de headbanging. Onde estávamos? Ah sim, pajubá. Tem origens surpreendentes em línguas indígenas brasileiras. Amapô, edi, picumã, aquendar, erê, etc. É uma pérola da inventividade peculiar que você só encontra nessa parcela da população, mesmo. Um salve aos outros gays deste Brasil.
    Só que o meu problema não é com o pajubá, nem com a questão, mas sim com a reação idiota e sem cérebro que os "coxinhas" (estou usando esse termo horrível por pura ironia e uma pitada de ódio da direita não-letrada) tiveram com a questão. Veja bem, leitor, que a questão nunca pediu nada sobre o pajubá. Nunca pediu o que tal palavra significa, a importância do dialeto, quantas pessoas usam, oras, você poderia trocar o pajubá por catalão, veneziano, qualquer outro dialeto deste mundo, e a questão não mudaria, visto que o enunciado só pedia o que confirmava o reconhecimento do pajubá enquanto desvio da variedade linguística hegemônica do português. Quer dizer, o que confirmava o dialeto como um verdadeiro dialeto, e não uma simples "língua do pê". Mas isso não impediu os "reaças" (ninguém segura meu lado esquerdista hoje) de cagarem com a interpretação de texto. Incrível como um jovem aborrecente de 16 anos fazendo a prova conseguiu olhar para a questão e resolvê-la sem problema algum, enquanto a suposta elite burguesa (nesse ponto eu estou ficando sem termos pra usar), que teve acesso a educação de qualidade, não consegue olhar pra merda de um enunciado sem gritar "MALDITOS COMUNISTAS!11!!!1! QUEREM DESTRUIR O BRASIL!!11!! ESQUERDALHAS!!!1!!!!onze!!". Acho que a direita simplesmente perdeu a capacidade usar o cérebro. Se tornou essa coisa primitiva, acéfala e egocêntrica. Tremem de medo quando algo simplesmente sugere a existência de uma população marginalizada. Quando algo simplesmente sugere a existência de uma subcultura que - pasmem - não é a deles.

    Porque é só doutrinação ideológica quando não é a ideologia que eu sigo. Se fosse a minha, tudo estaria bem.