Dizem que todo mundo tem uma tribo. Um grupo, uma identidade com a qual você consegue se encaixar, compadecer e estabelecer um pertencimento próprio.
Minha tribo não existe. Quer dizer, existe, mas é elétrica. Sinais de luz numa grande rede. Sou uma criança da Internet - com ela nasci, com ela cresci, morrerei antes de ver seu fim. É uma situação única, criada pelo desdobramento da tecnologia ao longo da história. Pela primeira vez, conseguimos criar um meio de existência paralelo ao mundo real. Chamar o mundo físico de "mundo real" se torna, então, um pouco estranho, visto que as conexões feitas pela grande rede são tão reais quanto as conexões imanentes. Poderia passar muito tempo aqui descrevendo os momentos que tive com meus amigos online. Momentos de intimidade, de alegria, de (temendo ser repetitivo) conexão. Momentos únicos, impossíveis de ser replicados com tanta fluidez e simplicidade no mundo real. Construí cidades; desarmei bombas; explorei cavernas; desbravei o espaço. Nestas situações pontuais, a linha entre o real e o virtual parece dar voltas, costurar-se e desaparecer. Talvez, se tivesse a oportunidade, largaria a imanência para se tornar um espectro metafísico, uma fenômeno transumano da era pós-virtual.
Pois minha tribo não existe. Estou fadado a pertencer a um mundo além da realidade. Sinto que não há alegria ou contentamento nas estruturas sociais materiais. Não tenho amigos próximos. Estou isolado - mais do que jamais estive, na faculdade. Talvez mais do que jamais estive em toda a minha vida. Será que sou uma pessoa tão horrível assim? Não sou engraçado, carinhoso, sociável, bonito ou simplesmente convencional o suficiente para ser digno de proximidade humana? Pensando assim, fica muito mais claro por quê procuro proximidades virtuais - não mereço proximidades materiais.