"Como você pode falar mal d'O Menino do Dedo Verde?" -- eu quase-gritei para o Arthur -- "Tistu era um anjo!"

    Eu tava brincando quando falei isso. Tive que pegar um sumário do livro aqui na Internet dado que absorvi pouquíssimo da história dele. É óbvio que se faz exceção dessa frase, a última de todo o texto e que, volta e meia, me pego pensando sobre.

    Tistu era um anjo.

    É uma frase evocativa, eu acho. Fotos superexpostas, luzes haladas, divino irradiado; contraposto com a ausência -- Tistu não está mais aqui: um buraco de dois milímetros no mundo; God's Last Wish, como está escrito no fundo de um daqueles memes de iceberg; futuros perdidos. E o anjo, antes de partir, meteu seu dedão em tudo, recheou a cidade com flores, demolindo paredes, fronteiras, prisões, esfareladas para abrir espaço para o sublime (anti-soja) que, por um pequeno momento, rasgou todas as convenções e discursos materializados em concreto.

    A inocência de Tistu não era uma ignorância ou burrice. Assumindo a voz crítica do autor do livro, ele via as coisas como se mostravam, sozinhas, não como a ficção humana nos conta que são, organizando e rearrajando inventário na nossa cabeça. E daí foi lá e rasgou tudo, e aqui lembro daquela frase do barbudo: "tudo que é sólido se desmancha no ar". É essa inocência poderosa do anjo-Tistu que me fascina. Se fosse anjo maiusculamente Cristão, não seria assim, já que o anjo-cristão é só um lacaio da ordem teocrática. Uma intervenção angelical sempre é impositiva de algo, claro, mas a intervenção de Tistu impôs a liberdade. E flores. Uma destruição criativa.

    Eu queria ser um anjo.













nossa, quase todos os textos desse site são sobre eu não querer ser gente. e depois fica aí se perguntando se é não-binário msm. credoooo bicha. e vcs ja perceberam como eu gosto d ficar contrapondo imagem quando escrevo? isso eh super gen-z bem corecore nichetok etc meio preguiçoso mas amo :b in quoting others, we cite ourselves!!